Joana Nunes Patrício
24 de jun de 2019
Os dois primeiros passos do guia do Center on the Developing Child de Harvard, publicados nos posts anteriores, permitiram compreender como as primeiras experiências e relações são importantes para o desenvolvimento ao longo da vida. Agora, no terceiro passo deste guia, apontam um conjunto de três princípios e a ciência da resiliência, no sentido de apoiar as famílias e o desenvolvimento das crianças e de maximizar a eficácia de políticas e serviços nesta área.
Que princípios?
Apoiar relacionamentos responsivos. Para as crianças, as relações responsivas com os adultos têm um duplo benefício, promovem o desenvolvimento saudável do cérebro e proporcionam apoio e proteção para lidar com o stress. Para os adultos, as relações saudáveis também estimulam o bem-estar e proporcionam suporte prático e emocional, fortalecendo a capacidade para lidar com situações stressantes. Ao apoiar relações responsivas, entre crianças e adultos e nos adultos entre si, estamos a promover o desenvolvimento saudável das crianças, a modelar relações responsivas e a reforçar as competências dos adultos.
Fortalecer competências centrais de vida. Todos nós precisamos de um conjunto de competências para gerir a vida, o trabalho e os relacionamentos com sucesso. Estas competências base são as chamadas funções executivas, que suportam a nossa capacidade de concentração, planeamento e alcance de metas, de adaptação a situações de mudança e de controlo de impulsos. Estas competências são desenvolvidas ao longo do tempo através de treino e prática. Os adultos podem estimular o desenvolvimento das funções executivas das crianças. Políticas que promovam estas competências em crianças e adultos são essenciais para o sucesso académico, profissional, e também parental.
Reduzir fontes de stress. Nem todo stress é mau, mas o stress intenso e contínuo pode causar problemas duradouros para as crianças e adultos, na medida em que a ativação excessiva dos sistemas fisiológicos de resposta ao stress afeta o cérebro e outros sistemas biológicos. Reduzir fontes de stress na família protegerá as crianças direta e indiretamente, pelo que uma abordagem multigeracional para reduzir as fontes externas de stress nas famílias tem duplos benefícios: os adultos serão mais capazes de proporcionar relações responsivas e ambientes estáveis para as crianças, e as crianças podem desenvolver sistemas saudáveis de resposta ao stress e uma arquitetura robusta do cérebro.
Então e se não conseguirmos eliminar os factores de stress? Onde entra a resiliência?
As mesmas experiências precoces adversas não têm o mesmo efeito em todas as crianças, sendo que algumas crianças superam melhor as dificuldades e desenvolvem mais resiliência que outras. Uma maneira de entender o desenvolvimento da resiliência é visualizar uma balança. Se existirem fatores protetores (ex. experiências positivas de vida, relações de apoio, competências para gerir problemas, etc.) a contrabalançar e a sobrepor-se aos fatores de risco, com o tempo, o impacto cumulativo destes fatores pode direcionar a saúde e desenvolvimento da criança para resultados positivos.
Imagem de Center on the Developing Child de Harvard
Entre os fatores protetores que ajudam a desenvolver a resiliência destaca-se a existência de pelo menos uma relação estável e suportiva com um cuidador, e competências de planeamento, monitorização e regulação do comportamento que permitem que as crianças respondam de forma adaptativa à adversidade e prosperem.
Esta combinação de relações de apoio, competências adaptativas e experiências positivas são a base da resiliência. Destacam-se ainda fatores como: a autoeficácia e autocontrolo percebidos; oportunidades para fortalecer as competências adaptativas e capacidades de autorregulação; fontes de fé e esperança; e a experiência de lidar com ameaças possíveis de gerir e com stress positivo.
Embora o cérebro e outros sistemas biológicos sejam mais adaptáveis no início da vida, nunca é tarde demais para construir a resiliência. Por exemplo, exercício físico regular, práticas de redução do stress e programas que desenvolvem funções executivas, podem melhorar a capacidade das crianças e adultos para enfrentarem, se adaptarem e até prevenirem adversidades nas suas vidas.
Os adultos que desenvolvem essas capacidades em si podem modelar comportamentos saudáveis nos seus filhos, melhorando assim a resiliência da próxima geração.
Em suma, no último passo deste guia, destaca-se a importância das relações responsivas e de apoio (entre adulto-criança e adulto-adulto), bem como a importância de desenvolver competências adaptativas, de reduzir fontes de stress e de construir a resiliência, tanto nos adultos como nas crianças.
Traduzido e adaptado de Center on the Developing Child. The Science of Early Childhood Development. Retrieved from https://developingchild.harvard.edu/guide/what-is-early-childhood-development-a-guide-to-the-science/
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