Incentivar faz-nos crescer!
- Joana Nunes Patrício
- 13 de abr. de 2018
- 3 min de leitura

Quantas vezes enquanto adultos sentimos a necessidade de um incentivo, encorajamento, motivação e apoio dos que nos rodeiam? Imagine, então, a importância que estes mesmos incentivos terão nas crianças, que se estão a construir, a definir e a estruturar...
De facto, é importante sentirmos que somos capazes, que acreditam em nós, que nos apoiam. Os estudos no âmbito da teoria da autodeterminação indicam que existem três necessidades psicológicas inatas ao ser humano – competência, autonomia e vinculação aos outros – que, quando satisfeitas, contribuem para a auto-motivação, bem-estar e ajustamento social e psicológico. Pelo contrário, quando estas necessidades não são satisfeitas, geram menor motivação e bem-estar.
Desde que nascem, as crianças estão internamente motivadas para serem ativas, curiosas, para questionar e brincar, sendo que este interesse espontâneo para explorar é essencial ao desenvolvimento cognitivo e social. O contexto pode reforçar e promover esta motivação (ex. através de desafios, feedback, comunicação e incentivo positivos) ou diminui-la e desencorajar a criança (ex. através do criticismo, não aceitação, feedback negativo), nomeadamente através do efeito que isto tem na sua perceção de competência. Este sentimento de ser capaz, aliado a um sentido de autonomia e de autodeterminação (em que se permitem escolhas e iniciativas e em que se promovem os interesses da criança), aumenta a motivação da criança para uma série de questões. A investigação tem vindo a demonstrar que quando as pessoas são motivadas internamente têm mais interesse, prazer e confiança, melhores desempenhos, persistência e criatividade, autoestima e bem-estar. Já quando os pais são mais controladores e não suportam a autonomia dos filhos, estes tendem a ter menor motivação interna.
É também essencial que estas dinâmicas ocorram num contexto de relações e vinculações seguras, no qual as crianças sentem uma maior confiança em si mesmas e na exploração do mundo. Assim, um contexto que responda a estas necessidade de competência, autonomia e vinculação é essencial para a motivação, iniciativa, responsabilidade, ajustamento e bem-estar da criança.
Note-se que o incentivo e encorajamento devem reconhecer e promover sobretudo o esforço contínuo e a perseverança, e não os resultados. Desta forma, incentivar e encorajar pode fomentar a independência, a determinação e a confiança da criança nas suas capacidades.
Por tudo isto, incentivar, encorajar, apoiar e motivar faz-nos crescer!
Sugestões:
Dê atenção ao que os seus filhos fazem, a pequenos comportamentos que valoriza. É preciso ter algum cuidado para não cair no exagero de elogiar constantemente e indiscriminadamente. O elogio mais eficaz é o elogio genuíno e sincero, específico e descritivo, focado no comportamento e feito de modo positivo e imediato, que promove a motivação interna e a confiança da criança nas suas capacidades, o que a leva a persistir numa tarefa e a desafiar-se a si mesma.
Encoraje os seus filhos regularmente, tanto nas maiores conquistas, como nas atitudes e esforços diários, nos processos.
Encorajar passa por oferecer palavras de incentivo, por estar atento e disponível para ajudar, por fazer comentários positivos e específicos.
Dê aos seus filhos oportunidades para ajudarem e fazerem tarefas, em que possam assumir responsabilidade, levando-os a sentir-se orgulhosos, capazes e bem-sucedidos.
Deixe que os seus filhos liderem brincadeiras e apoie as suas iniciativas.
Dê apoio aos seus filhos para experimentarem coisas novas, mostre que acredita que são capazes.
Ajude os seus filhos a dar sentido ao mundo – a compreender e lidar com regras, a gerir desafios, problemas e conflitos; mostre-lhes como podem pensar e resolver problemas, por ex. modelando a forma como pensa em em voz alta.
Dê suporte, mas não resolva todos os problemas pelos seus filhos. Leve-os a pensar, pergunte o que eles acham, que soluções encontram, e como os pode ajudar, fazendo sugestões, se necessário. Deixe que os seus filhos percebam que, por vezes, também precisa de ajuda.
Encoraje amizades, oportunidades para os seus filhos brincarem e resolverem problemas com outras crianças, contribuindo para a sua autoestima e autoconfiança.
As crianças aprendem, em grande medida, através da prática: ajude-os em tarefas mais complexas, dividindo-as em passos mais simples, encorajando a autonomia e confiança.
Quando encoraja a criança, evite fazer elogios que envolvam ironia ou crítica, comparações, ou elogios fáceis e excessivos. Além de menos sinceros, tornam o elogio menos eficaz para encorajar a criança, podem fazer com que a criança espere sempre esse retorno externo e que sinta que falhou ou que não tem o mesmo valor quando não é elogiada. Podem ainda resultar numa grande pressão para a criança corresponder a expectativas desajustadas ou numa autoimagem irrealista e narcísica.
Lembre-se sempre que não existem receitas, cada criança tem características únicas e o nível e tipo de encorajamento que dá deve ser ajustado às necessidades e características dos seus filhos.
Adaptado de Brummelman, Thomaes, Nelemans, Castro, Overbeek, & Bushmane, 2015; Ryan & Deci, 2000; Webster-Stratton, 2010; Zero to Three, 2010.
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